Como o livro “Uma Ortodoxia Generosa” pode ser relevante para a Igreja hoje?

No início deste ano li um livro chamado “Uma Ortodoxia Generosa”, do polêmico autor Brian McLaren. Nesta leitura tentei reter ao máximo o que é bom, e descartar aquilo que não me atraiu, e o resultado disso é o texto que segue. Boa Leitura!

1.      INTRODUÇÃO

Neste ensaio será analisado o livro: “Uma ortodoxia generosa – A Igreja em tempos de pós-modernidade”, do autor Brian McLaren, publicado pela Editora Palavra, em 2007. Como esta literatura pode ser relevante para a Igreja hoje? Isso será analisado a seguir.

Somente, e tão somente aspectos positivos para a igreja hoje, os quais ela tem perdido, serão elencados e analisados. Toda e qualquer opinião que
aparentemente destoa da verdade será relevado neste ensaio.

 

2.      DESENVOLVIMENTO

 

No começo de seus escritos, McLaren diz algumas palavras interessantes, ao salientar que a ortodoxia deva resultar em ortopraxia, ou seja, uma real e verdadeira compreensão da fé e doutrinas deve resultar em prática ética do cristianismo[1], entendendo que o real valor em entender a trindade é amar, honrar e servi-la[2], vendo membros de outras religiões e “ortodoxias”, não como inimigos, mas como amigos que possamos dialogar[3].

No final do capítulo 1 há a conclusão que o autor chega:

Estou recomendando que reconheçamos que cristãos de todas as tradições trazem seus dons distintos e maravilhosos para a mesa, para
que possamos todos desfrutar da festa da ortodoxia generosa – e espalhar essa mesma festa para o mundo inteiro.[4]

Realmente, a idéia de reunir cristãos de todas as tradições, com seus dons distintos e maravilhosos é muito boa. Se fosse para reter todos os dons, talvez isso não seria bom, pois muitos entrariam em conflitos severos entre as tradições, contudo, pegando dons distintos, certamente isto seria enriquecedor, pois um completaria o outro, formando assim, um arranjo teológico cristão universal e católico, no sentido
mais puro destas palavras.

Ao ler o capítulo 3, vemos o autor questionando sobre a diferenciação que é feita entre Jesus como Salvador e Senhor. Infelizmente a igreja atual tem acreditado num Jesus apenas Salvador, mas não é isto que McLaren propõe. Ele apóia a idéia de Jesus ser o Salvador e Senhor. O cristão tem submeter ao senhorio de Cristo, tendo-o como mestre, submetendo-se totalmente a vontade do seu Senhor e negando a sua própria. Concordo com McLaren, quando ele diz: “A única maneira de aprender sua [do Senhor] habilidade é através da submissão voluntária dos discípulos à disciplina e à tradição do mestre.”[5]. Sendo a tradição “um modo de praticar ou um modo de vida que inclui sistemas de
aprendizado, um conjunto de conhecimento…”[6], como o próprio autor diz, não sendo as tradições como se curvar antes da aula
de caratê, mas sim um estilo de vida, padrão de atitudes e conversas, juntamente com um conhecimento de acordo com o seu mestre e Senhor. Separar o senhorio de Cristo da salvação, torna muito fácil e cômodo ao “cristão”, pois cabe a ele apenas uma oração pedindo para que Jesus entre em seu coração e pronto. Contudo, o ser cristão vai além disso. É necessário que o cristão ame a Jesus, e que o tenha como a real razão de sua existência, obedecendo as suas instruções com amor e diligência.

McLaren aborda a questão da teologia missional de maneira relevante, quando diz: “Ela também elimina termos como missionário e campo missionário, uma vez que agora todo cristão é um missionário e todo lugar é um campo missionário.”[7].

Com o passar dos anos, a igreja acabou atribuindo o trabalho missionário a determinados homens, separados para tal obra. Apenas alguns recebiam tal dom e responsabilidade. Estes comissionados não poderiam fazer missões em sua terra natal, tinham que ir para o “campo”, para um local distante de sua casa, preferencialmente que não fosse um grande centro urbano. E mais, “o ungido” não poderia trabalhar e sustentar-se, igrejas deveriam “enviá-lo” e sustentá-lo. Aí surge a pergunta que não quer calar: onde no texto bíblico esta percepção se encontra? Que personagem bíblico exemplifica tal fato? Parece-me complicado achar algo assim….

Concordo com McLaren quando ele quer eliminar os termos missionários e campo missionário. Realmente, todos cristãos devem entender que são verdadeiros missionários e seu ciclo de amizades é seu campo. Missões é sinônimo de amor! Quando Cristo mandou amarmos o próximo, certamente isso implica em falar do evangelho! Existe maior amor que falar do maior amor existente na terra? Este é um valor que deve ser resgatado no texto bíblico, onde o amor ao próximo impera.

Ao falar sobre os anabatistas, McLaren diz que eles: “…entendem que embora as pessoas possam ter nascido em uma família ou em uma cultura cristã, ninguém nasce automaticamente cristão.”[8]. Isto é uma verdade, que igrejas, por se preocuparem com o número de membros (ou talvez adeptos), não fazem questão de salientar. Não basta apenas ser neto, ou filho de pessoas cristãs irrepreensíveis, para ser cristão, tem que ser chamado por Deus. Não basta viver em uma cultura cristianizada, onde todos se dizem cristãos, mas apenas o são nominalmente. Ser cristão implica primeiro no ato de Deus alcançar determinada pessoa com a sua graça e ela responder positivamente a este chamado e seguí-lo. Afirmar ser cristão é fácil, apenas por ter levantado a mão em um determinado “culto evangelístico” não quer dizer que a pessoa é cristã, ela precisa realmente ter nascido de novo e amar verdadeiramente ao seu Senhor e Salvador, que é Jesus Cristo!

Quando McLaren trata o assunto do meio ambiente, ele diz: “Quanto mais seguimos a Jesus pensando em termos de nossa responsabilidade para com os que vierem depois de nós no tempo e no espaço, mais estaremos levando a sério nosso papel como mordomos da criação.”[9]. Na atual conjuntura em que a igreja está hoje, muitos seguimentos religiosos ignoram e outros simplesmente abusam da questão do meio ambiente, rebaixando-o a mais inferior relevância.

Deus fala desde Adão para o homem ser um bom mordomo do local em que vive, descansa, trabalha e etc., contudo isto tem sido extremamente
negligenciado (não por todos, mas pela grande maioria das igrejas), pouco se escuta falar sobre este assunto em púlpitos de igrejas. O cristão deve ter uma consciência social-ecologica relevante, pensando no meio ambiente assim como Deus pensou e mandou que pensássemos, fazendo assim uma diferença na sociedade, e de mais uma forma impactando àqueles que o cercam.

McLaren falando sobre alguns missionários, diz o seguinte: “…quando pensamos em ortodoxia missionária, pensamos em uma abordagem colonial, que simplesmente não busca afastar o pecado da cultura, mas que busca (sem perceber) afastar a cultura das pessoas e substituí-las por uma subcultura cristã euro-americana.”. Isto é muito grave.

A bíblia não fala para as pessoas que tem uma determinada cultura, que ela deva se moldar a uma cultura de um país cristão! Não! Ela não diz isso. O que a bíblia diz é que os pecados de uma cultura, ou seja lá quais forem os pecados, estes sim devem ser lançados fora. As culturas devem ser preservadas, as variações de costumes tem que ser respeitadas. Deus é um Deus de criatividade e diversidade, Ele foi quem criou as diferentes culturas, então elas devem ser perpetuadas e resguardadas, para que não sejam eliminadas. O que precisa sim ser eliminado é o pecado. Este sim precisa ser extinguido da vida do cristão, seja lá qual for a cultura a qual ele se envolva.

 

3.      CONCLUSÃO

 

Vejo que existem muitas coisas que precisam emergir no meio da igreja cristã atual. Algumas foram salientadas no desenvolvimento acima, e estas foram a que achei mais relevantes na leitura do livro. A igreja cristã precisa resgatar estes valores, não agindo com preconceitos em relação ao autor, por talvez ser ele um não muito ortodoxo aos olhos da maioria dos cristãos.

A igreja precisa reconhecer suas limitações em relação a “missões” ao diálogo com outras religiões, sendo amigos delas, e com outras culturas, não querendo impor determinada forma de agir e pensar. Agindo assim, certamente a ortodoxia será ortopraxia!


[1] McLaren,
Brian D., Uma ortodoxia generosa. Brasília, DF: Palavra, 2007. p.40.

[2] Ibid,
p.38.

[3] Ibid, p.42.

[4] Ibid, p.77,78.

[5] Ibid, p.98

[6] Ibid, p.98

[7] Ibid, p.121

[8] Ibid, p.224

[9] Ibid, p.267

2 comentários em “Como o livro “Uma Ortodoxia Generosa” pode ser relevante para a Igreja hoje?”

  1. Albertinho,

    Boa reflexão e bom apanhado de boas idéias do McLaren! Eu não cheguei até o final deste livro mas do pouco que me lembro (novidade!) através da leitura percebi que algumas tradições e ritos estão tão intrínsecos no meio cristão que temos dificuldade de enxergar qualquer coisa que esteja a frente.
    Alémmm da sua resenha, aprendi que precisamos conhecer antes de “tagear”… “reter o que bom”, é bom!
    bjs

  2. Foi um desafio e aprendizado essa parte do “reter o que é bom”, alias, isso tem sido um desafio eterno, e tem que ser!!!
    Busquemos a parte boa da história, deixando de lado o que não é interessante!

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