Dízimos e ofertas no Novo Testamento

por Flavia Azevedo

Talvez um assunto pouco estudado pela igreja contemporânea brasileira seja a questão dos dízimos e ofertas. Ouvimos falar muito sobre contribuição, de formas apelativas e muitas vezes com embasamento bíblico, mas será que a forma como estamos contribuindo para o sustento da igreja tem realmente um fundamento hermenêutico correto?

O recolhimento do dízimo tem um valor significativo para a Igreja, principalmente no sustento de suas dependências e obreiros. A igreja deve contribuir! Todavia, ao olharmos para as Escrituras, vemos que nem sempre utilizamos a motivação correta ao ofertar ou dizimar.

O apelo à contribuição está presente em todos os cultos, e já ouvi diversos argumentos como “só estamos devolvendo para o Senhor”, “ser dizimista é uma obrigação”, “não podemos roubar a Deus”, “você não pode servir a Deus se não der o dízimo”.  Argumentos tais, que soam desagradáveis para quem está conhecendo a comunidade cristã pela primeira vez. Fundamentam-se estes argumentos baseados em um trecho bíblico que não trata do contexto da Igreja, e sim de Israel, que é  Malaquias 3.10:

“Tragam o dízimo todo ao depósito do templo, para que haja alimento em minha casa. Ponham-me à prova”, diz o Senhor dos Exércitos, “e vejam se não vou abrir as comportas dos céus e derramar sobre vocês tantas bênçãos que nem terão onde guardá-las.”

Para começar a entender este texto, é preciso voltar para Levíticos, que trata de leis que foram dadas à Israel.  Em Levíticos 7.30-32, está a ordem para que os israelitas dessem o dízimo ao Senhor. E o dízimo não era apenas os 10% da renda final, eram os 10% dos cereais, os 10% do rebanho, 10% das frutas etc.

Todo o dizimo era destinado ao tabernáculo e mais tarde ao Templo. Ambos eram o lugar de habitação da glória de Deus. E se olharmos todas as especificações que o Senhor deu para a construção destes lugares (Ex 26-31), entenderemos a importância de se ter um sustento. Além disso, para um israelita, era o lugar mais importante, pois Deus estava ali.

O livro de Malaquias trata de um contexto, em que após a reconstrução do Templo e todo incentivo de Neemias, para que o povo cumprisse as leis, os israelitas voltaram a cair no pecado. Por volta de 433 a.C., Malaquias censura vários pecados de Israel, como a violação do sábado, os casamentos mistos, a desconsideração dos dízimos e a corrupção dos sacerdotes.

Para um israelita, a lei era requisito de vida ou morte. A obediência era imprescindível para que houvesse santidade, e conseqüentemente comunhão com Deus. Mas, obviamente, o direcionamento de Malaquias não foi à Igreja, uma vez que ela nem sequer existia. Creio que usar o argumento de Malaquias 3.10 para ordenar a Igreja dar o dizimo, não faz sentido algum. Se assim fosse, os líderes também deveriam ordenar a igreja fazer sacrifício de animais da maneira correta e também a guardar o sábado.

No Novo Testamento, no contexto eclesiástico, esta questão muda e muito, a começar pelo fato de que o Templo não é mais habitação divina, e a Igreja (que somos nós, pessoas!) passa a ser a habitação do Espírito Santo. Não há mais construções, nem rituais, nem peças que precisam de manutenção, nem sacerdote. Ou seja, o dizimo que outrora era destinado a tais fins, torna-se inútil.

A palavra “dízimo” não aparece em nenhuma carta destinada às Igrejas. Aparece apenas nos Evangelhos e com conotação negativa, ao se referir aos fariseus que se vangloriavam de ter práticas dizimistas (Mt 23.23, Lc 11.42), e em Hebreus, ao citar a história de Abraão (Hb 7).

O princípio de contribuição para a Igreja tem como foco o próprio corpo de Cristo, ou seja, as pessoas redimidas. A carta de 2 Coríntios, capítulo 8, apresenta o princípio ideal de contribuição do Novo Testamento, apontando seu  foco e como deve ser feita. Neste capítulo, Paulo elogia a generosidade das igrejas da Macedônia no auxílio aos irmãos necessitados. Estas igrejas não eram ricas, mas apesar disto, sentiram-se privilegiadas em participar da assistência aos santos (v.4).

O foco das ofertas é a assistência aos santos. O dinheiro da contribuição não deve ser para ar condicionado, bancos acolchoados, ou um salário generoso para o pastor, enquanto há irmãos que tem necessidades muito mais urgentes. O corpo de Cristo está em primeiro lugar e ajudar a quem não tem é um privilégio.

A oferta deve ser voluntária, e não por obrigação (v.8-12). Paulo, ao incentivar os coríntios à contribuição, diz claramente que isto não é uma ordem, mas um conselho. As igrejas da Macedônia deram com profunda generosidade, é o amor que rege a contribuição. 2 Coríntios 9.7, ainda tratando deste tema, diz que cada um deve ofertar conforme propôs em seu coração, não por obrigação, mas com alegria.

O propósito da contribuição é a igualdade.  Paulo, em 2 Coríntios 8, no versículo 13, diz que não deseja que alguns sejam aliviados, enquanto outros são sobrecarregados, mas que haja IGUALDADE. Ninguém deve dar além do que pode, a ponto de faltar para si. E os que têm muito, não devem reter, a ponto de sobrar para si. Se houver igualdade, todos serão supridos. No versículo 14, Paulo propõe um equilíbrio: a sua fartura supre a necessidade do outro, e quando o outro tiver fartura, ele suprirá a sua necessidade.

Paulo jamais falou sobre dízimo, pois agora estamos em outra realidade. Agora o Espírito Santo habita em nós, e também em nossos irmãos. O foco do nosso cuidado e amor são as pessoas e não um templo, um lugar, um prédio… não nos apeguemos à lugares como se fossem lugares santos. Nós, cristão, somos santos, pela graça de Cristo Jesus.

Não nos equivoquemos com interpretações errôneas das Escrituras, vamos ofertar com generosidade, mas observando os princípios corretos e com a motivação correta. Não por obrigação, mas com profunda alegria. Lembremo-nos também, que Deus não prometeu bênçãos nem maldições para quem ofertasse ou deixasse de ofertar.  Não nos enganemos, a Bíblia é clara quanto àquilo que precisamos saber sobre a vida na comunidade cristã.

7 comentários em “Dízimos e ofertas no Novo Testamento”

  1. oi amado irmão em Cristo, concordo plenamente com você, pena que a maioria sabem mas não aplicam, muitos estão brincando ser ser CRENTES, infelizmente.
    Que o nosso DEUS continue a te abençoar, beijos

  2. Texto excelente e esclarecedor.
    Infelizmente esse é um assunto que, por conveniência, não é tratado corretamente na grande maioria das igrejas onde o texto base é sempre Malaquias 3. Talvez por causa do apelo das bênçãos financeiras que foram prometidas ao povo de Israel.
    O cristão deve ter em mente que as suas contribuições para a igreja são necessárias e deve estar sempre pronto a ajudar, mas pelos reais motivos e não achando que sua vida material será abençoada por isso.

  3. Me preocupo com algumas idéias que estão nas entrelinhas (e outras que estão explícitas).

    Sim, Deus não promete maldição para os que não ofertam. Mas se eles não ofertam mostram claramente que seu tesouro está no lugar errado.

    Não vi em nenhum lugar a questão do IDE pregar o evangelho. Irmãos, o objetivo principal da igreja não é que os irmãos tenham igualdade de bens, mas é EVANGELISMO! É levar Cristo aqui, ali, lá e até os confins da terra! E isso envolve grana, queridos!!!

    Você quer investir em tesouros no céu (que a traça e a ferrugem não deterioram) dê para o Senhor até mais que o dízimo. Você quer ficar trabalhando no seu emprego secular enquanto outros vão ao campo missionário, então ajude a sustentá-los!

    E ajude com mais que o dízimo! 10% é o mínimo que pode dar para demonstrar seu amor e zelo pela obra do Senhor.

    E, por experiência própria, se você nunca sentiu Deus te abençoar de maneira especial enquanto exercita sua fé em dar generosamente para a obra do Senhor é porque não está pondo a mão no bolso, querido irmão! Faça isso e experimente a bondade e a fidelidade do nosso Provedor de TODA a boa dádiva e todo o dom perfeito!

  4. Olá, a paz Alberto Azevedo!

    Em face do artigo veiculado acima – que ficou muito bom – gostaria de convidar o amigo a ler um TCC acadêmico/teológico sobre o dízimo que está postado no site [ http://www.reformaja.org ] no link “arquivos”: A sombra do Templo no Dízimo e na Igreja.

    Também acreditamos que o material produzido faça parte do vosso ambiente de estudo e análise. Por esta razão, leia a pesquisa até o fim se for possível, pois o desenvolvimento do texto é realmente “desafiador”…

    Um abraço!

  5. Excelente, anônimo, excelente! Tenho lido muito tudo isso que estão escrevendo para denegrir a obra de Deus atualmente. É claro que há exageros e deturpações, explorações, etc, porém, me parece que alguns que “não conseguiram espaço” agora trabalham “arduamente” para “teologizarem” tudo contra, como se todo o trabalho do Espírito Santo até aqui tivesse sido uma grande farsa. Já ouvi até que seria um espírito enganador! Veja só! Tudo isso me lembra o diabo usando a própria Escritura para confrontar Jesus, e também a serpente usando a própria palavra de Deus para confundir Eva. O que tenho visto é um bando de gente apegada as suas carreiras seculares e sem nenhuma coragem para encarar o IDE. Eu já estive em Costa Rica e Nicarágua, no meio dos drogados, bandidos, alcoólatras, desanimados, perdidos, ignorantes, no mato, na favela, na boca de fumo, em delegacia, hospital, até de furacão escapei (estava em Manágua em 1998 quando o Micth varreu a América Central).

  6. Sou Pastor evangélico da Igreja do Deus Altíssimo e travamos uma verdadeira batalha para exercermos as verdades contidas no evangelho de Cristo, até de falsos profetas temos sido chamados, pasmem! por irmãos de grandes igrejas denominacionais atuais, e por mais absurdo que possa parecer muitos dos irmãos aos quais anunciamos essas verdades para os desobrigar das ordenanças impostas por homens, ordenanças essas que não foram atribuidas á eles senão ao povo israelita( e não cabe a mim fazer mais colocações pois as mesmas foram feitas de forma muito clara e objetiva pelo irmão Alberto), não aceitam, pois trazerem tradições herdadas de seus avós e pais. oremos para que o evangelho de nosso Senhor seja aceito em nossos dias!
    A paz

  7. A PAZ DO SENHOR. A TODOS OS QUE TEM O SENHOR COM SENHOR. Afinal eu me pergunto e não acho a resposta. Se o DÍZIMO do VELHO TESTAMENTO de fato e constatado na própria PALAVRA DE DEUS A BÍBLIA, não é para este tempo NOVO TESTAMENTO, e que nem em DINHEIRO era. E todos os tais PASTORES que o praticam o SABEM MUITO BEM, e desobedecem a PALAVRA DE DEUS. Qual é então a FINALIDADE destes homens, que se dizem ungidos, profetas, mestres, e pastores, a procederem desta forma. SERIA A POUCA FÉ EM DEUS, DE QUE ELE O DONO DO OURO E DA PRATA, DE SUPRIR TODAS AS NECESSIDADES DA SUA CASA DE ORAÇÃO. PREFERINDO LESAR AS OVELHAS DO SENHOR, COM A MALDIÇÃO E A BARGANHA DE MALAQUIAS 3 8à10. Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta nação. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes. Não seria melhor OBEDECER A PALAVRA, todos nós, e OFERTAR COM AMOR, e obedecer A PALAVRA DE DEUS, DE 2ªCorintios 9. 7. Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria. 2 Coríntios 9:7. PENSEM NISSO SERVOS DO SENHOR, JESUS CRISTO JÁ QUITOU TODAS AS DÍVIDAS DOS NOSSOS PECADOS, MORRENDO NA CRUZ. NÃO VIVEMOS MAIS SOBRE O JUGO DA LEI. VIVEMOS PELA E NA GRAÇA. OFERTAR COM AMOR, AJUDAR O POBRE E O NECESSITADO, A VIÚVA, E O ÓRFÃO, NÃO SER AVARENTO. ISSO É OBEDECER A DEUS. E NÃO BARGANHAR COM DEUS POR MEDO DE MALDIÇÃO, PAGO O DÍZIMO, E O SENHOR TEM POR OBRIGAÇÃO ME PROSPERAR. FIQUEM NA PAZ
    alonsocarrera@hotmail.com

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